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A cota da barragem da foz do Tua vai determinar o futuro da linha de 54 quilómetros que liga Tua e Mirandela: à cota de 200 metros, ficam submersos 35 km entre Tua e Ribeirinha; à cota de 170 metros, ficam submersos 20 km entre Tua e Brunheda; e, à cota 160 metros, ficam submersos os 13 km entre Tua e Santa Luzia.
A administração da Refer, na passada sexta-feira, ainda não sabia que iria ficar sem um importante troço da Linha do Tua, devido à decisão - já anunciada pelo Governo - de construir a barragem da foz do Tua. Um documento do Instituto da Água refere que a barragem, à cota de 200 metros, submerge 35 quilómetros daquela via-férrea entre a estação do Tua e de Ribeirinha, mas admite que, "para minimizar a interferência com a linha de caminho-de-ferro do Tua", a adopção de uma cota de 170 metros já só deixaria inundados 20 quilómetros da linha (Tua-Brunheda). Um terceiro cenário considera uma cota de 160 metros, o que permitira que o comboio chegasse de Mirandela a Santa Luzia, ficando apenas submersos 13 quilómetros de carris.
O mesmo documento alerta, porém, que a redução das cotas para estes últimos valores "reduzirá naturalmente a potência a instalar e a energia produzida pelo aproveitamento".
Apesar da preocupação em "salvaguardar parte da via-férrea", o referido estudo omite que qualquer solução acaba com a ligação da Linha do Tua à Linha do Douro, que é a sua principal geradora de tráfego.
Questionada pelo PÚBLICO sobre se faria sentido continuar a existir uma meia Linha do Tua, amputada do resto da rede ferroviária, a administração da Refer respondeu: "É assunto que não foi colocado a esta empresa pelo que não nos pronunciamos." Susana Abrantes, porta-voz da gestora de infra-estruturas ferroviárias, disse que a EDP nunca contactou a Refer sobre a barragem do Tua.
O troço em causa é também o mais interessante do ponto de vista paisagístico, pois acompanha o rio na sua parte mais sinuosa e faz desta linha uma das obras mais emblemáticas da engenharia portuguesa do século XIX. Essa é, aliás, uma das razões pelas quais a linha tem mais procura no Verão - grande parte dos passageiros faz a viagem de comboio pelo pitoresco da paisagem e da própria infra-estrutura.
Após o acidente de 12 de Fevereiro deste ano, perto de Santa Luzia (que vitimou três ferroviários), a Refer investiu 100 mil euros na reconstrução da linha no local do acidente e na estabilização dos taludes, mas o LNEC não deu um parecer favorável à sua reabertura e impôs que as automotoras circulassem em "marcha à vista", de modo a que o maquinista possa parar ao mínimo obstáculo avistado. Esta situação inviabiliza a exploração comercial da linha, pois imporia velocidades inferiores a 30 km/hora.
A expectativa da Refer é a de que, satisfeitos alguns requisitos do LNEC, a linha reabra antes do Natal. E como da barragem só tem conhecimento pelo que vem nos jornais, a administração continua a investir na modernização daquela infra-estrutura, onde prevê gastar perto de um milhão de euros entre Mirandela e Frechas, um troço, aliás, que não está previsto ficar inundado.
20 mil metros de história
O Guia de Portugal (edição da Fundação Calouste Gulbenkian) conta que a construção dos primeiros 20 quilómetros desta linha "exigiu vigoroso ânimo aos engenheiros e trabalhadores, que aí formigaram por algum tempo, a romper rochedos e esporões, muitas vezes dependurados por cordas e empoleirados em pranchas rapidamente guindadas quando se acendiam os rastilhos". É este troço da Linha do Tua que desaparecerá se a barragem vier a ser construída.
In: PÚBLICO: Edição Impressa Versão para cegos
11 de Dezembro de 2007 - 09h37